Povo Kalabaça

Fábio Barbosa dos Santos, liderança do povo Kalabaça de Crateús

Foto de Fábio Barbosa dos Santos

Eu me chamo Fábio Barbosa dos Santos, tenho 29 anos de idade, sou da etnia Kalabaça de Crateús, do estado do Ceará. Na minha aldeia, houve alguns casos de Covid-19. Eu resido na cidade, nós não estamos aldeados, porque a etnia Kalabaça de Crateús não possui aldeia. Muitos membros do nosso povo estão divididos entre outras aldeias, tanto na cidade quanto no interior. 

Contamos com o apoio da Sesai [Secretaria Especial de Saúde Indígena], que nos ajuda a combater a pandemia e os impactos provocados por ela. Para nós que estamos vivendo esta situação, está complicado, porque a ajuda é pouca, a distribuição de álcool em gel é pouca, a burocracia foi um pouco demorada em relação à distribuição e ao recebimento. A situação financeira não está muito boa, muita gente perdeu emprego; eu já estava desempregado e, com a pandemia, só piorou a situação. 

Eu tenho família, sou liderança indígena do povo Kalabaça e estou no movimento desde criança. Estou desempregado e tive que abandonar a faculdade de Educação Física. Até porque tenho problema de saúde (hidrocefalia e hipertensão) e o medo é grande, medo de sair para achar emprego para colocar comida na mesa. Perdi alguns amigos próximos para essa doença. É uma coisa tão rápida que, quando você menos espera, já aconteceu, não dá tempo de visitar nem nada. E a gente que é mais vulnerável fica com medo, a gente que é do grupo de risco. (Fábio Barbosa dos Santos, 7 de setembro de 2020)

Edmilson Barbosa da Silva, Cacique Edmilson do povo Kalabaça de Crateús

Foto de Edmilson Barbosa da Silva

Meu nome é Edmilson Barbosa da Silva, mais conhecido no movimento indígena como Cacique Edmilson. Sou de 1977, tenho 43 anos. Pertenço à etnia Kalabaça, no município de Crateus (Ceará). Sim, já houve alguns casos de Covid-19 no povo Kalabaça, mas, graças a deus, se recuperaram. Os protocolos de segurança são ficar em casa; se sair, usar máscara e desinfetar as mão com álcool em gel; e sempre andar com álcool em gel em mãos, nas bolsas ou em qualquer coisa que possa levar. A orientação é para só resolver o básico, voltar e ficar em casa – o principal é ficar em casa. E em relação a quem está doente, é ficar isolado no local no período de 15 a 17 dias, não ter contato com ninguém e, sempre que for entregar alguma coisa para alguém, se comunicar por celular, para que a pessoa vá com luvas, máscara e álcool em gel, coloque o alimento ali, e depois tranque e dê o toque para a pessoa pegar. 

Este momento tem sido de muita aflição e, ao mesmo tempo, de angústia, medo de perder algum parente da nossa própria etnia, do nosso próprio povo. Nós não esperávamos acontecer um tipo de praga no nosso meio, mas, graças a deus, estamos tentando superar esta situação. Fui afetado pela pandemia em relação ao Acampamento Terra Livre [ATL, que este ano ocorreu apenas virtualmente], lá em Brasília [Distrito Federal], onde, todos os anos, faço manifestação no meio do movimento indígena. Fui afetado também na fabricação de artesanato, por conta da matéria-prima, já que muitas vezes a gente precisa encontrá-la na natureza, onde a gente retira sementes. Fui afetado ao mesmo tempo psicologicamente, sem saber como reagir em um momento tão difícil. Mas, como diz o ditado, quando a gente tem Pai Tupã, a gente tem tudo e vai arrumando as coisas aos poucos. Fui afetado também em relação aos outros tipos de trabalho que eu faço – estou desempregado e não trabalhei mais. 

Perdemos alguns parentes indígenas por conta dessa doença maldita, mas, no meu povo, não morreu nenhum, fomos somente afetados. Minha espiritualidade tem sido feita online e, ao mesmo tempo, tenho feito sozinho. Às 6 horas, pego minha maracá e me concentro, faço minha oração, com muita força e fé, pedindo a Pai Tupã que leve essa doença para bem longe, pedindo para nós podermos voltar a nossas atividades normais. Porque, se a gente não fizer isso, a gente vai perdendo força, principalmente a gente que é liderança, cacique ou pajé. Precisamos estar fortalecidos em nosso espírito, corpo, mente, alma e tudo. E pedir aos parentes nas redes sociais que façam o mesmo, para fazermos uma grande oração em forma de corrente, para a gente proteger o nosso povo e a nossa luta, porque não podemos fraquejar diante desse inimigo tão perigoso, a Covid-19. Ultimamente, tenho ido à beira do rio pedir a Pai Tupã, a Mãe Tamaí e à Caipora (com a qual tenho muito vínculo) proteção, proteção aos nossos parentes e a todos que estão infectados com essa doença. E peço que Pai Tupã expulse logo essa doença. (Edmilson Barbosa da Silva, 9 de setembro de 2020)

Iuri Alves Gomes

Iuri Alves Gomes, nascido em 19 de outubro de 1998, é indígena do povo Jenipapo-Kanindé, da aldeia Lagoa Encantada, localizada em Aquiraz (Ceará). É graduando no bacharelado em Biologia na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), estagiário no Laboratório de Ecologia Vegetal e Restauração Ecológica (Levre/UFRB), membro do Grupo de Pesquisa Restauração Ecológica, Conservação e Conectividade da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Reconecta/Univasf), integrante do Coletivo de Estudantes Indígenas na UFRB e bolsista do Projeto Mapeamento das Violações aos Direitos Indígenas no Nordeste do Brasil. Atua como monitor do Museu Indígena Jenipapo-Kanindé e guia das Trilhas Ecológicas da Etnia Jenipapo-Kanindé.