Povo Potyguara

Pesquisadora: Daniela Alves de Araújo 

Entrevistada: Toinha Potyguara

Data: 21/09/2020

Foto de Antônia Santos do Nascimento

Meu nome é Antônia Santos do Nascimento, sou conhecida como Toinha Potyguara, tenho 36 anos e pertenço ao povo Potyguara da aldeia Jucás, que fica na periferia do município de Monsenhor Tabosa [Ceará]. Na minha aldeia, houve e está havendo casos de Covid-19. Os protocolos que a gente tomou, enquanto aldeia e polo base, foram fazer barreiras sanitárias na entrada da cidade, por nós vivermos na periferia; usar álcool em gel e máscara; e conscientizar cada pessoa de que a Covid-19 é invisível. A nossa aldeia também tomou a providência de pedir aos parentes, que gostam muito de visitar os outros parentes, para que ficassem mais em casa, e para que, se por acaso precisassem sair, usassem máscara, se protegessem, pois nós temos uma aldeia com muitos hipertensos, diabéticos e pessoas com outras patologias, que são os maiores grupos de risco, além de crianças. 

Para mim, enquanto agente indígena de saúde [AIS], está sendo um período preocupante, porque em nenhum momento a gente da saúde deixou de trabalhar. Nós estamos trabalhando a pé e em visitas domiciliares. Não adentramos a casa, mas nunca deixamos de dar assistência a nossas crianças e aos hipertensos, sempre conscientizando as pessoas. Em alguns momentos críticos, tivemos que trabalhar pelo celular; muitas vezes, a gente trabalha via WhatsApp, via redes sociais. Está sendo assim, uma época não tão fácil, não só para nós, da aldeia Jucás, mas acredito que para o mundo. Até certo momento, nós fomos a cidade com menos casos [da região], mas agora já está ocorrendo transmissão comunitária, a gente não sabe mais onde a doença está, estamos vivenciando um momento bem crítico. No meu polo, tivemos profissionais que se infectaram, mas, graças a deus, estamos na luta contra esse vírus. 

De alguma forma, querendo ou não, a gente foi afetado, eu me senti afetada. A gente luta até hoje. Graças a deus, até este exato momento, venho na minha prevenção, para não contrair esse vírus. É uma coisa que dá medo, porque é uma doença às vezes letal. Eu perdi uma pessoa muito importante, minha prima, minha companheira de trabalho, agente indígena de saúde da aldeia Grota Verde, que tanto ajudou as suas famílias. Ela não resistiu à Covid-19 e morreu. Além disso, perdi também alguns amigos. Esta pandemia, para nós, povos indígenas, tem acarretado uma perda muito grande, a gente está sendo o povo mais afetado. Todos os dias, a gente está batendo na porta de cada parente, pedindo que fique em casa, que só saia se realmente for necessário. Mas trabalhar com gente não é fácil. É um momento difícil, é muito difícil, mas estamos na luta. Que o pai Tupã nos abençoe e nos proteja neste momento tão difícil, em que não sabemos onde está a doença. 

Hoje, nossa cidade está bem afetada; em certo período, ela não esteve. Muitos de nossos parentes aqui já estão afetados, já perdemos alguns. No meu polo base, temos três áreas e eu pertenço à área 1. Hoje, temos 26 indígenas infectados, e estamos esperando alguns resultados ainda. Estamos na luta e já temos algumas curas. Mas, para nós, ainda é tudo muito novo. Enquanto agentes indígenas de saúde, psicologicamente, ficamos abalados. Além de ser profissional, eu sou mãe, sou pai e sou amiga, então eu peço que fiquem em casa e só saiam se realmente for necessário.

Teka Potyguara

Foto de Teka Potyguara
Vídeo Relato da Pandemia – Teka Potyguara

Entrevistada: Cleomar Pereira dos Santos

Data: 07/09/2020

Questionário:

  1. Qual seu nome? 
  2. Qual sua idade?
  3. Qual seu povo, aldeia e município?
  4. Na sua aldeia, ocorreu algum caso de Covid-19?
  5. Quais foram os protocolos de segurança que a aldeia adotou?
  6. Como tem sido para você, como indígena, viver este período tão delicado?
  7. Você foi afetado de alguma forma? Se sim, quais foram os principais impactos?
  8. Você perdeu algum parente ou conhecido para a Covid-19?

Respostas:

1 – Meu nome é Cleomar Pereira dos Santos.

2 – Tenho 42 anos.

3 – Sou Potyguara da aldeia Tourão, município de Monsenhor Tabosa (CE). 

4 – Na nossa aldeia não há caso de Covid-19, graças a deus.

5 – O protocolo que tentamos estabelecer aqui na aldeia é conscientizar as pessoas a não saírem de casa; não irem à cidade, a não ser quando houver necessidade; usarem máscara, álcool em gel e, quando chegarem da cidade, fazerem toda a higienização, tirarem a roupa com que foi para a cidade, trocarem por outra e aquela já lavarem separadamente, pois pode ter vírus. Toda vez que vai uma pessoa para a cidade, a gente já conscientiza sobre isso. O uso de máscara é direto, mas existem aquelas pessoas mais teimosas, que não querem usar máscara nem álcool em gel. Mas aí a gente vai conversando com jeitinho até que conseguimos conscientizar essas pessoas. É difícil, mas a gente faz a nossa parte.

6 e 7 – Para nós, viver este momento tem sido muito difícil. É uma coisa que pegou a gente de surpresa, porque é um vírus que não tem remédio e não tem vacina. Foi muito difícil, principalmente para mim, como agente de saúde. Muitas vezes, a gente pedia às pessoas para usarem máscara e elas já vinham com ignorância. As pessoas não tinham aquela consciência. Para mim, a parte mais difícil que já encontrei na minha vida foi esta.

8 – Sim, eu perdi uma amiga. Ela era agente de saúde da nossa equipe. Para nós, foi uma perda muito grande, uma pessoa muito querida, muito amada, e a Covid-19 levou nossa amiga deste mundo para o outro. O nome dela é Daniela, ela era agente de saúde da nossa área também.

Daniela Alves de Araújo

Daniela Alves de Araújo nasceu em 20 de abril de 1996, na cidade de Euzébio (Ceará). Indígena do povo Jenipapo-Kanindé, residente na aldeia Lagoa Encantada, em Aquiraz, é monitora do Museu Indígena Jenipapo-Kanindé. É graduanda do curso de Museologia na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), onde faz parte do Coletivo de Estudantes Indígenas. Foi bolsista do Projeto Mapeamento das Violações aos Direitos Indígenas no Nordeste do Brasil.