Este relatório diz respeito à pesquisa realizada pela bolsista Joana Darc Sena de Souza, orientada pelo professor Felipe Cruz, com o objetivo de apresentar violações de direitos do povo Tuxá da aldeia Mãe, em Rodelas (Bahia).
Com foco em uma série de ameaças dirigidas à liderança Sandro Hawaty, envolvendo o território sagrado D’zorobabé do ano de 2010 até os dias atuais, realizou-se um levantamento com membros da comunidade. Verificou-se, porém, que as pessoas ouvidas não sabiam ao certo responder o que havia acontecido. Então, realizaram-se conversas e entrevistas com Sandro Hawaty, via WhatsApp, nas quais ele explicou o que aconteceu e descreveu as providências tomadas para pôr fim às ameaças.
Preocupado em perder o vínculo com a sua história e com a terra que foi morada dos ancestrais, o povo Tuxá optou, em decisão coletiva, por retomar seu território. No dia 8 de janeiro de 2010, os Tuxá ocuparam o seu território ancestral e solicitaram ao então presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) e ao Ministério Público Federal (MPF) que fosse criado em caráter de urgência um grupo de trabalho (GT) para a realização dos estudos de identificação e delimitação da área, buscando, com isso, garantir sua posse definitiva. Esse primeiro levante durou apenas três meses, pois o povo não possuía uma organização interna que pudesse garantir a permanência no local, e poucas famílias se mostraram dispostas a participar dessa ação.
A primeira decisão da justiça federal em favor dos Tuxá ocorreu no ano de 2014, quando se determinou que a Funai criasse um GT. Porém, como o órgão não cumpriu a decisão, no ano de 2017, a pedido do MPF em Paulo Afonso (Bahia), a Justiça Federal condenou a União e a Funai a pagarem ao povo coletivos, por atrasos na conclusão dos procedimentos de demarcação de TIsTuxá uma indenização por danos morais .
A justiça considerou que os atrasos na demarcação provocam danos morais coletivos, pois a comunidade indígena não pode exercer plenamente seus direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam. Assim, deram à União e à Funai um prazo de dois anos para se concluir o rito da demarcação.
Cansado de esperar pelo poder público, em 31 se agosto de 2017, o povo Tuxá, organizado internamente e com o apoio da maioria das famílias, resolve fazer a autodemarcação de seu solo ancestral, denominado D’zorobabé. Assim, iniciou-se um novo levante em busca de seus direitos originários, exigindo dos órgãos competentes que se efetivasse a demarcação do território.
Contudo, em 2018, uma liminar emitida pelo juiz estadual da comarca de Chorrochó (Bahia) determinava que os indígenas deixassem de imediato o local da autodemarcação. Desde então, a comunidade indígena sofre ameaças e perseguições de posseiros que têm interesses nas terras. Graças ao apoio do Serviço de Apoio Jurídico (Saju) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), os Tuxá conseguiram suspender a liminar. Entretanto, o povo tem consciência de que a luta está apenas começando, e é preciso cada vez mais estar firme na busca pelos seus objetivos.
O direito dos Tuxá ao território vem sendo desrespeitado desde a construção da barragem de Itaparica. O nosso povo sofre há mais de 30 anos, à espera da demarcação e das compensações devidas pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf). Enquanto vivenciam essa luta árdua pelo território, os anciãos se deparam com o desafio de transmitir para os jovens a importância do solo sagrado para o povo e veem com grande preocupação o futuro de sua comunidade se não lhes for garantida a legitimação do seu território.
Em outubro de 2017, o grupo intitulado Conselheiros Tuxá da Aldeia Mãe (Contam) divulgou uma nota pública esclarecendo que a luta é coletiva. Essa e outras ações foram feitas para tirar um pouco da responsabilidade dos ombros de uma única pessoa. Após reunião do MPF com lideranças políticas locais, as ameaças diminuíram. No entanto, quando se é dado um passo mais firme para conseguir os direitos sobre o território, tudo volta a tensionar.
O território é de suma importância para o povo Tuxá, pois lá foi morada dos seus ancestrais e será morada das futuras gerações. No D’zorobabé os anciãos estão revivendo práticas que faziam na Ilha da Viúva e ensinando às novas gerações o que já estava sendo esquecido. O território sagrado é, sem dúvida, a esperança viva de um lugar para a manutenção das práticas tradicionais, do ser indígena Tuxá. E, para continuarem vivas suas tradições cultural, espiritual e religiosa, eles se mantêm firmes na luta pela demarcação.
“Os não índios não aceitam que a terra é um ente, algo vivo e sagrado para nosso povo, e dela a gente não abre mão.” (Hawaty Arfer Jurum Tuxá)
Povo(s) impactado(s) | Tuxá |
Terra(s) Indígena(s) impactada(s) | Terra Indígena Tuxá D’zorobabé (Aldeia Mãe) |
Estado | BA |
Região | Norte |
Município | Rodelas |
Período da violação | A violação teve início após a primeira tentativa de retomada da Aldeia Mãe, em 2010, estendendo-se pela possibilidade de demarcação da Volta do Penedo, entre os anos 2014 e 2015, e pela autodemarcação do território de D’zorobabé, entre os anos 2017 e 2018. |
Tipo(s) de população | Rural |
Fonte(s) das informações | Site |
Outras fontes | Conversas com os moradores da comunidade. |
Causa(s) da violação | Conflito por terra Manejo de água Manejo de resíduos/ lixo Turismo e recreação |
Matérias específicas | Terra |
Empresa(s) e entidade(s) do governo | Prefeitura Municipal de Rodelas, Câmara de Vereadores de Rodelas |
Atores governamentais relevantes | Ministério Público Federal (MPF) |
Tipo(s) de financiamento | |
O estado da mobilização diante da violação | Alto (mobilização generalizada, em massa, violência, prisões etc.) |
Grupo(s) que se mobiliza(m) | Agricultores Organizações locais Governo local/ partidos políticos Grupos indígenas ou comunidades tradicionais Movimentos sociais Vizinhos/ cidadãos/ comunidades |
Outros grupos | Grupo de Conselheiros Tuxá da Aldeia Mãe (Contam) |
Forma(s) de mobilização | Diante desses conflitos, os Tuxá procuraram o Ministério Público Federal (MPF). Além disso, realizaram uma campanha na mídia alternativa, enfatizando que a luta é do povo, e não apenas de uma liderança. O Grupo de Conselheiros Tuxá da Aldeia Mãe (Contam) divulgou uma nota pública, esclarecendo que a luta é coletiva. Essas ações foram feitas para tirar um pouco o foco de uma única liderança. Após reunião do MPF com lideranças políticas locais, as ameaças diminuíram. No entanto, quando se dá um passo mais firme para garantir os direitos sobre o território, tudo volta a se tensionar. |
Impactos ambientais | Visíveis |
Impactos na saúde | Visíveis |
Impactos socioeconômicos | Visíveis |
Avanços positivos no processo de violação | Diante das ameaças, foi possível perceber o crescimento da organização tuxá em defesa de suas lideranças. |
Avanços negativos no processo de violação | O sentimento de vulnerabilidade e instabilidade entre as famílias, que passaram a temer com maior intensidade pela segurança daqueles que participam do movimento. |
Data de preenchimento | 13/12/2019 |