Uma arte sobre a epidemia. Fiz uma entrevista com quem pegou a epidemia, que passou mal, foi parar no hospital, que ele teve lá, que ele viu, vamos dizer assim, que ele passou pelo vale da morte, né? Ele me contando, me relatando tudo isso. Então tudo isso que ele me relata num depoimento dele, que aconteceu com ele, sobre esse isolamento. Ele falou que esse isolamento não é bom, é um isolamento realmente isolamento… Os médicos não vão te ver, você tá passando mal, mas os médicos não te vêem, então tudo isso afetou a mente dele.
E as pessoas também da comunidade que te vê já com um outro olhar, entendeu? Se você pegou você já foi infectado, e você vem pra dentro da aldeia, as pessoas já te isolam também, o povo não consegue ficar próximo a você, principalmente os mais jovens, os mais velhos não, que eles não liga pra isso. Porque os mais velhos eles tem uma questão cultural nossa muito forte ainda, os mais velhos, nossas avós, nossos tios vem, nós fica comendo, querem nos alimentar, e nós falamos pra ele “não, o senhor tem que ficar longe de mim, eu tô com o coronavírus”, eles falam “não, não tem disso não, eu quero te cuidar”.
Então é muito difícil a gente ficar isolado dentro da nossa aldeia porque nossos parentes aproximam mesmo e eles querem até morrer junto com nós. Eles não abandonam nenhum. É por isso que nas aldeias quase as pessoas não vê casa de psiquiatria, essas coisas de doença mental abandonado, casa de idoso abandonado… Não, ninguém abandona ninguém aqui no povo indígena, cada um cuida do outro, da maneira que podemos. Então assim, eu estou descrevendo um relato do Miriti, que pegou esse coronavírus, e desse relato estou fazendo uma pintura, uma arte nesse relato dele.E eu tô gostando desse desafio…
Apy mã kotor voltei de novo, o nome da arte. Significa que ele viu, que tudo que ele viu, que ele entendeu, que essa luta que ele teve com esse vírus, que ele quase morria, ele foi e voltou de novo. Hoje essa arte é baseada nessa história, de que ele lutou contra o vírus e conseguiu derrotar o vírus, ou seja, ele foi e voltou, ele tava numa batalha. Por isso que eu enfatizo a flecha, o índio só vai pra uma batalha com um arco e uma flecha, por isso eu na arte tá a flecha lá. É essa a explicação do significado, do sentido da vida dele: Fui e voltei de novo.
Gostei muito desse trabalho e quero que esteja contribuindo muito. Sou um rapaz sonhador, que sonha, e quero que as pessoas também se evolua e se respeite, que dê a experiência de igualdade a cada um de nós, pra que juntos nos tomemos a decisão correta pra nosso futuro, pra nossa vida, pros nossos familiares, e eu tô nesse meio, né? De desenvolver essa arte pra falar desse vírus que tá amedrontando as pessoas, que tá causando impacto no meio indígena, que tá causando diversa situação em cada área de familiares, então assim é uma coisa… Nós estamos passando por uma situação muito… vamos dizer assim, muito difícil, mas a gente junto, a gente vai superando isso aí.