Povo Gavião

Pesquisadora: Daniela Alves de Araújo 

Entrevistado: Fagner Gavião 

Data: 28/09/2020

Esta pesquisa está sendo feita por estudantes indígenas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), junto com estudantes indígenas da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em parceria com a Universidade de Sussex, da Inglaterra. Ela é parte do projeto Mapeamento das Violações aos Direitos Indígenas no Nordeste do Brasil. Seu principal objetivo é saber como tem sido o período marcado pela pandemia do novo coronavírus para as populações indígenas do Ceará, atentando-se às medidas de prevenção tomadas pelas aldeias, ao número de casos e aos principais impactos nas comunidades. Esta entrevista foi realizada em troca de mensagens de texto pelo WhatsApp.

Foto de Raimundo Fagner Meneses dos Santos
  1. Qual seu nome e sua idade?

Raimundo Fagner Meneses dos Santos, 26 anos.

  1. Qual seu povo, aldeia e município?

Povo Gavião, aldeia Boa Vista dos Rodrigues, no município de Monsenhor Tabosa (Ceará).

  1. Na sua aldeia, ocorreu algum caso de Covid-19? Se sim, você tinha algum parentesco com a pessoa?

Graças a deus, não.

  1. Quais foram os protocolos de segurança que a aldeia tomou?

Os protocolos de segurança da nossa aldeia são: quando a pessoa for sair para algum lugar, usar máscara, álcool em gel ou líquido, e ficar longe de aglomerações. Nós diminuímos a saída de casa para os lugares com suspeita de Covid-19. Só saímos quando é preciso mesmo, mas com muito cuidado.

  1. Como tem sido a questão dos rituais em sua aldeia?

A questão dos rituais na nossa aldeia… Nós demos uma pausa, porque as pessoas têm muito medo de contrair a Covid-19. Mas, quando diminuírem os casos, nós voltaremos a fazer os nossos rituais.

  1. Você foi afetado de alguma forma? Se sim, quais foram os principais impactos?

Eu, pessoalmente, não contraí a Covid-19, mas o meu trabalho, como professor daEJA [educação de jovens e adultos], foi afetado. Eu trabalho como professor de EJA na rede municipal de ensino, e as aulas estão sendo remotas, porque a maioria dos alunos é do grupo de risco.

  1. Você perdeu algum parente ou conhecido para a Covid-19?

Sim, uma das agentes indígenas de saúde [AIS] de uma aldeia vizinha.

Entrevistado: Toinho Gavião

Data: 18/09/2020

Questionário:

  1. Qual seu nome? 
  2. Qual sua idade?
  3. Qual seu povo, aldeia e município?
  4. Na sua aldeia, ocorreu algum caso de Covid-19?
  5. Quais foram os protocolos de segurança que a aldeia adotou?
  6. Como tem sido para você, como indígena, viver este período tão delicado?
  7. Você foi afetado de alguma forma? Se sim, quais foram os principais impactos?
  8. Você perdeu algum parente ou conhecido para a Covid-19?

Respostas via áudio: 

  1. Bom dia. É um prazer responder suas perguntas. Meu nome é Antônio de Sousa dos Santos, mais conhecido como Toinho Gavião.
  2. Tenho 53 anos.
  3. Sou do povo Gavião, da aldeia Boa Vista, município de Monsenhor Tabosa (CE).
  4. Na nossa aldeia, não houve caso de Covid-19, graças a deus.
  5. Aqui, a gente conversou com todas as pessoas e famílias da aldeia. Cada família está tomando as suas medidas e precauções, cada uma está cuidando do seu lar e de seu pessoal. Isso foi o que a gente orientou, esses foram os protocolos que a gente tomou devido à situação, para cada um se prevenir. Quando for sair para algum canto, é preciso usar máscara e álcool em gel; quando chegar de alguma viagem, colocar a roupa no sol, lavar. Isso foi o que a gente adotou aqui, na nossa aldeia Boa Vista.
  6. Aqui na Boa Vista, como sou agente indígena de saúde, me preocupei muito, porque a gente não podia entrar nas casas – até hoje a gente não pode ainda, a gente faz as visitas, mas não pode entrar na casa, não pode ter um diálogo com as pessoas. Isso é muito difícil, principalmente porque sou agente de saúde, não só da minha aldeia, trabalho em três aldeias (Boa Vista, Pelada e Queimadas). Então, é muito difícil para mim.
  7. Não. Graças a deus, aqui na nossa aldeia, não houve casos, graças a deus, apesar de algumas pessoas com quem a gente conversava não atenderem às recomendações. Até hoje, mantivemos a aldeia sem casos, graças a deus.
  8. Não. Parente aqui mesmo, de dentro da aldeia, a gente não perdeu. Mas a gente perdeu uma colega de trabalho de uma aldeia próxima. A gente sentiu muito, porque era uma colega de trabalho muito ativa, foi no início logo da pandemia, a gente viveu esse caso. Ela era agente indígena de saúde. Mas eu acredito que ela esteja no mundo dos encantados, nos auxiliando a cada dia.

Daniela Alves de Araújo

Daniela Alves de Araújo nasceu em 20 de abril de 1996, na cidade de Euzébio (Ceará). Indígena do povo Jenipapo-Kanindé, residente na aldeia Lagoa Encantada, em Aquiraz, é monitora do Museu Indígena Jenipapo-Kanindé. É graduanda do curso de Museologia na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), onde faz parte do Coletivo de Estudantes Indígenas. Foi bolsista do Projeto Mapeamento das Violações aos Direitos Indígenas no Nordeste do Brasil.